sábado, 2 de janeiro de 2016

OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS - OPERAÇÃO LAVA - JATO, SEMELHANÇAS




Casos de corrupção envolvendo políticos, empresários e altas cifras para suborno, favorecimento em contratações públicas e outros “favores”. A descrição parece bem atual e explicaria, em poucas palavras, a Operação Lava-Jato, iniciada em março de 2014 no Brasil, tendo à frente o juiz Sérgio Moro. No entanto, o resumo também serviria para entender uma ação capitaneada pelo Judiciário da Itália, conhecida como Operação Mãos Limpas, ou "Mani Pulite" em italiano. Em 21 de dezembro de 2014, em sua coluna no GLOBO, Elio Gaspari citava um artigo de 2004 do juiz Moro com o balanço da operação italiana: 2.993 mandados de prisão, 6.059 pessoas investigadas, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros. Além disso, 13 envolvidos cometeram suicídio e grandes partidos foram extintos.
Deflagrada em fevereiro de 1992, a Mãos Limpas começou com uma denúncia do dono de uma empresa de materiais de limpeza ao procurador da República Antonio Di Pietro. O pequeno empresário contou-lhe que, ao perguntar sobre qual o procedimento para se tornar fornecedor de um asilo em sua cidade, um funcionário lhe disse que seria melhor oferecer um “agrado” ao gestor da instituição. Após ouvir o relato, Di Pietro decidiu verificar a história. Em uma visita inesperada ao escritório de Mario Chiesa, integrante do Partido Socialista Italiano (PSI) e administrador do asilo Pio Albergo Trivulzio, foram encontrados US$ 6 mil de origem ilícita. Ali iniciava a saga que descobriria uma série de desmandos do governo. O interesse da população era a última motivação dos investigados ao exercerem suas funções públicas.
A investigação levou ao fim da chamada Primeira República Italiana, cujas principais forças políticas tinham sido a Democracia Cristã (DC) e o Partido Socialista Italiano (PSI Fonte: Acervo de O Globo

BBC Brasil - É possível estabelecer um paralelo com o que ocorreu na Itália durante a Operação Mãos Limpas com a Operação Lava Jato? O PT pode perder a sua força?
Vittorio Craxi - Acho difícil fazer uma comparação com o que ocorreu na Itália pois o PT é muito maior e mais forte no Brasil do que o Partido Socialista Italiano era naquela época. Embora fosse do poder, o PSI era muito menor do que o PT, não tinha a mesma força que o PT tem hoje no Brasil.
O PT ainda tem condições de se reerguer porque conta com uma história recente de crescimento econômico e com a força do seu líder, (o ex-presidente) Lula, que ainda é muito popular.
BBC Brasil - Apesar disso, dirigentes do partido foram condenados por corrupção.
Craxi - É inevitável que depois de uma prolongada permanência no poder ocorram episódios de corrupção. O risco de degeneração é fisiológico. No Brasil dos últimos anos o crescimento econômico gerou muita 'desenvoltura' no mundo dos negócios, com políticos de esquerda atuando como se fossem de direita.
Este foi o erro do PT, aderir às prerrogativas dos partidos de direita, que defendem o mundo financeiro, o capitalismo liberal e a iniciativa privada.

O partido deve ser salvo com a regeneração dos dirigentes e não com a abolição do próprio partido. Os brasileiros acabaram de votar e deverão mudar o presidente nas próximas eleições. Esta é a democracia: respeito ao voto dos cidadãos, são estas as regras.
Em geral, penso que neste momento histórico mundial, o melhor papel para a esquerda seja o de oposição. Do contrário, acabaremos por aceitar as regras do capitalismo financeiro global.
BBC Brasil - Nos anos 90, seu pai foi condenado por corrupção e financiamento ilegal do PSI. Ele chegou a admitir que o financiamento irregular dos partidos era uma praxe na época. Ele poderia ter agido de forma diferente?
Craxi - O que ele disse foi que o financiamento de toda a política na Itália, não apenas a do partido dele, era em parte feito de forma ilegal, porque os partidos não declaravam estes recursos, porque havia uma grande desordem nas regras e, portanto, havia grande tolerância com relação a isso.
Foi um discurso muito aberto e franco sobre a importância do financiamento aos partidos, que é uma das condições fundamentais da democracia.
A política é e deve continuar sendo financiada, no modo mais transparente possível. Ou então não se trata de democracia, mas de regime.
Na minha opinião, a solução é tornar o financiamento aos partidos público e 'desfiscalizar' o financiamento privado.
BBC Brasil - O financiamento dos partidos continua sendo um desafio para a política?
Craxi - Penso que o financiamento à política seja um dos grandes temas da democracia. Mas as acusações de corrupção não devem ser generalizadas.
Há casos de corrupção e casos de financiamento irregular à política, e devem ser diferenciados. Isso vale tanto para os partidos de esquerda, quanto de direita.
O ex-presidente (Fernando) Collor também esteve envolvido em atos de corrupção e por isso sofreu o impeachment.
Leia mais: Sucesso da Lava Jato 'depende de novas medidas anticorrupção'

Image caption João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, foi preso suspeito de envolvimento em escândalo de corrupção investigado pela Lava Jato
BBC Brasil - A situação melhorou após a Operação Mãos Limpas?
Craxi - Mudou para pior. Antes cometia-se ilegalidade para financiar os partidos, hoje comete-se ilegalidades para financiar-se a si mesmos.
BBC Brasil - E o que é pior?
Craxi - Hoje existem ladrões, naquela época não. A Operação Mãos Limpas foi um desastre para a Itália, porque os juízes fizeram carreira e alguns foram inclusive acusados de corrupção, os partidos desapareceram.
Não por acaso um homem rico organizou um partido. E partidos pessoais não são partidos. Por isso acredito que as grandes ideias e os grandes partidos devam ser salvos, apesar dos erros que possam ter cometido.
BBC Brasil - Apesar da Operação Mãos Limpas, o fenômeno de propinas e troca de favores continua sendo um assunto na Itália, com diversos episódios recentes de irregularidades. Existem novas formas de corrupção na política?
Craxi - Sim, e infelizmente não é apenas um problema de leis, mas de cultura, de respeito às regras. É preciso fazer um trabalho profundo principalmente nas classes dirigentes do governo.
É difícil modificar a mentalidade de um criminoso, mas podemos ensinar às novas gerações a respeitar antes de tudo a legalidade, a transparência e o respeito das regras

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