terça-feira, 10 de junho de 2014

PEDRO SIMON: PT OFICIALIZOU O TROCA-TROCA



PT oficializou a política do troca-troca, diz Pedro Simon, por Gabriel Garcia

O senador Pedro Simon (RS) lembra com saudosismo a transformação do seu Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que abrigou opositores da ditadura militar do Brasil, em Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em 1980, após o governo de Ernesto Geisel pôr fim ao bipartidarismo.
Na semana em que o PMDB sacramenta o apoio à candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff, em convenção marcada para 10 de junho, o senador gaúcho vê com tristeza o caminho seguido pelo partido, que mergulhou no submundo da política da troca de favores.

Pai de quatro filhos, o gaúcho de Caxias do Sul diz que a maior decepção de quase seis décadas de vida pública foi o Partido dos Trabalhadores (PT), que, segundo ele, oficializou a política do troca-troca. E, no poder, acabou virando as costas para as bandeiras da ética e da moralidade.

Sem a mesma vitalidade do líder estudantil de 1945, Simon perdeu a força para continuar na política, carreira que encerrará em 31 de janeiro de 2015, data em que termina o seu mandato e, coincidentemente, completa 85 anos de vida.
Como o senhor vê o desencanto da população com a classe política atualmente?

Precisamos de um governo que tenha condições de romper com o troca-troca, que acabe com a política do ‘é dando que se recebe’, o chamado pacto da governabilidade. Tem que fazer um pacto com a nação, com a sociedade. É a única chance até de fugir do ciclo PT-PSDB, PSDB-PT.

O que pensa a respeito das manifestações populares que são esperadas para o período da Copa? Elas são fogo de palha, como na época da Copa das Confederações?

A mocidade trouxe duas grandes decisões para o Brasil: a aprovação do projeto da Ficha Limpa, que nunca seria aprovado caso não houvesse pressão, e o julgamento do mensalão. Sobre a Copa, eu rezo para que não seja um fiasco. Em 1970, ganhamos a Copa do México. O governo do (ex-presidente Emílio Garrastazu) Médici fez um carnaval. Com a Copa no Brasil, é normal que o governo faça publicidade. Espero que não tenha manifestação com violência, com radicalização. Agora, defendo que os jovens saiam para as ruas. Os jovens bem intencionados terão grande influência e serão decisivos nas eleições para presidente.

O senhor foi líder estudantil. Os movimentos estudantis perderam credibilidade?
Faz muito tempo que a UNE (União Nacional dos Estudantes) é um órgão do governo, assim como várias instituições. O governo está arregimentando jovens para ganhar verba e cargo.
Se o senhor está decepcionado com a política, não seria o caso de permanecer e tentar mudá-la?

Estou saindo porque vou completar 85 anos. Desses, durante 60 anos eu estive na vida pública. Poderia ser candidato ao Senado, no Rio Grande do Sul. Meu partido me deixou à disposição para definir. Mas, para fazer uma aliança para o governo estadual, meu partido achou interessante oferecer o cargo a outro partido.
Qual foi sua grande decepção nesse tempo de vida pública?

A grande desilusão da minha vida foi o PT. O ex-presidente Lula perdeu uma oportunidade de ouro de fazer diferente. Não consigo entender como ele não demitiu o Valdomiro Diniz, quando foi flagrado com envolvimento com o (bicheiro) Carlos Cachoeira. Quando não demitiu, abriu a porta (para corrupção). A partir dali, a credibilidade não era a mesma.

O que mudou no jeito de fazer política no Brasil desde 1960, quando o senhor iniciou a sua carreira?
Piorou. Sempre houve influência de parlamentares no governo. Acontece que houve a oficialização. De certa forma, quem botou isso para fora foi o mensalão. Onde já se viu ter deputado que recebia para votar a favor do governo? Foi a oficialização do troca-troca. Agora, a troca está sendo apoiar a presidente Dilma em troca de dois minutos na televisão.

Houve algum avanço?
Não. Infelizmente o que houve foi que a presidente Dilma teve que ceder. Se não tivesse cedido, ela não seria candidata à reeleição. Se ela não compusesse com essa gente do PT, candidata a reeleição ela não seria.

Político honesto ou habilidoso, qual é o melhor para o Brasil hoje?
O ideal é o político honesto e habilidoso. Agora, um político corrupto e habilidoso é horrível para o Brasil. Por quê? Além de ser corrupto, ele tem a vantagem de ser habilidoso.
O senhor tentou disputar a eleição presidencial. Tem algum ressentimento com o seu partido, o PMDB, por ter lhe impedido?
A direção partidária ficou no troca-troca de cargo e de favores. Por esse motivo, ela não tem respeito. Não teve no governo Fernando Henrique, não teve no governo Lula e não tem no governo Dilma. É uma troca de vantagens e de cargos dolorosa. O MDB (partido que deu origem ao atual PMDB) está caminhando para ter posição reduzida no Congresso.
Mas há ressentimento em relação à tentativa de disputar a eleição presidencial?
Eu tenho ressentimento profundo pelo fato de o MDB não desempenhar seu papel. Lutamos uma vida inteira contra a ditadura, contra tudo que tinha de ruim. Quando chegamos ao governo, não tivemos dignidade. O MDB, na verdade, se adaptou. (O ex-presidente José) Sarney terminou muito mal o governo, tanto que o Fernando Collor ganhou, em 1989, a primeira eleição direta após a ditadura, batendo nele.
O senhor votaria nulo nessas eleições se julgasse que nenhum candidato merece seu voto?
Nulo é votar em nada. Acho que o ideal é votar naquele melhorzinho, a não ser que ele não valha absolutamente nada. O ideal é sempre votar.
Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

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